Lucro acima das vidas: O capitalismo brasileiro em sua face mais perversa

Hoje completa uma semana que uma notícia vinda da serra gaúcha ganhou os noticiários. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) resgatou, na noite daquela quarta-feira (22), 207 trabalhadores em situação análoga à escravidão em alojamento em Bento Gonçalves. Esses trabalhadores eram contratados por uma empresa terceirizada que prestava serviços para as vinícolas Aurora, Garibaldi e Salton.

Os trabalhadores, maioria vindos da Bahia, foram vítimas de ameaças e maus tratos, incluindo o uso de choques elétricos e spray de pimenta. Segundo relatos, eles eram obrigados a trabalhar diariamente das 5h às 20h, sem pausas, com folgas apenas aos sábados. Ganhavam comida estragada e só podiam comprar produtos em um mercadinho perto do alojamento, com preços superfaturados.

Um absurdo, mas que não acaba por aí! Desde que este caso foi noticiado pela primeira vez novos desdobramentos e informações surgem. Quanto mais mexem nos vinhos finos da serra gaúcha, mais podridão vai aparecendo! 

Segundo noticiado no começo desta semana pelo jornal Pioneiro, há indícios de que membros da polícia militar estão envolvidos com o crime. Em depoimentos prestados após o resgate, homens relataram terem sido espancados e ameaçados por PMs. Segundo os relatos, policiais tinham um acordo com o proprietário do alojamento onde o grupo era mantido em condições precárias durante a colheita da safra de uva.

Nesta terça-feira, o Centro da Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Bento Gonçalves tentou justificar o injustificável. A entidade que representa os empresários poderosos da cidade afirmou em uma nota que a culpa é do “assistencialismo”. Que há falta de mão de obra por causa de programas como o Bolsa Família. Oras, para que servem os programas sociais se não para que as pessoas não morram de fome, tenham um mínimo?! Ninguém pode ser obrigado a aceitar condições de trabalho desumanas! 

No mesmo dia, o vereador Sandro Fantinel (Patriota) de Caxias do Sul, usou a tribuna para destilar sua opinião xenofóbica e racista! O vereador que é empresário e apoiador de Bolsonaro pediu que empresas ‘não contratem mais aquela gente lá de cima’, em referência a baianos. Ainda afirmou que “a única cultura que os baianos têm é viver na praia tocando tambor”. Um absurdo! O PSOL do Rio Grande do Sul denunciou ao Ministério Público e pediu a cassação e prisão deste vereador. Hoje foi realizado um ato na Câmara de Vereadores de Caxias pedindo a cassação do vereador. Após pressão popular, o Legislativo aceitou os pedidos e abriu um processo de cassação de Sandro Fantinel.

O pior que a gente sabe que este caso dos vinhos da serra não é o único de trabalho em condições análogas à escravidão no Brasil, nem no Rio Grande do Sul. Nos últimos 10 anos, mais de 13,6 mil trabalhadores em condições análogas à escravidão foram resgatados no Brasil. Segundo o Ministério Público do Trabalho, apenas em 2021 (dado mais recente), foram recebidas 1.415 denúncias sobre o trabalho escravo, aliciamento e tráfico de trabalhadores, número 70% do ano anterior. Aqui na Zona Sul, houve dois casos registrados no ano passado: em Jaguarão e Santa Vitória do Palmar, segundo o Diário Popular.

Esse caso é mais um que demonstra que o lucro está acima da vida no sistema capitalista! Precisamos lutar pela responsabilização dos culpados e pela superação desse sistema injusto e cruel. 

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